PONTO DENTRO DO CÍRCULO E LINHAS PARALELAS – Parte 1
Antes de falar sobre este símbolo, gostaria de compartilhar brevemente meu procedimento de interpretação, o que ajudará bastante a compreender meu ponto de vista.
A forma como entendo os símbolos e as alegorias faz com que eu veja a Maçonaria como um encontro de irmãos em busca da verdade: a verdade sobre o sentido da vida, sobre mim mesmo, uma busca que realizo tentando entender as motivações do comportamento humano, com o objetivo de tornar meu ambiente social e familiar um lugar melhor.
Minha forma de ouvir os símbolos que me conduzem a essa verdade, a minha verdade, é com ouvidos disciplinados e uma atitude reflexiva no silêncio. Dessa maneira, vou descobrindo, pouco a pouco, os mistérios e segredos que eles encerram. Quando começo a entender como aplicá-los na prática, uma luz se acende e ilumina portas maravilhosas que eu sequer sabia que existiam.
Tornou-se evidente para mim que, para descobrir essas portas do conhecimento, as palavras sempre são insuficientes. Por essa razão, utilizamos símbolos e alegorias. É claro que a interpretação dos símbolos é absolutamente pessoal, fazendo parte do meu segredo, pois não tem utilidade ou entendimento para qualquer natureza alheia à minha. Jurei guardar silêncio sobre suas revelações e, assim, elas permanecem guardadas em meu coração e perpetuadas por si mesmas ao longo do tempo.
Antes de falar sobre o símbolo, gostaria de compartilhar um ensinamento do Talmud que, desde que estou na Maçonaria, ganhou um novo significado para mim. Ele diz: “O olho só vê o que a consciência está preparada para compreender.” É dessa forma que minha consciência vê este símbolo, e espero poder acrescentar algum detalhe novo.
Na imagem inicial, vemos um círculo com um ponto no centro e, aos lados, duas linhas paralelas. Sobre essas linhas, há duas figuras. O círculo representa o sol em seu movimento; as duas linhas paralelas que tocam tangencialmente a órbita solar correspondem aos momentos em que o sol entra plenamente nos signos zodiacais de Câncer e Capricórnio, representando o que, na astronomia, são os solstícios de verão e de inverno. Estes marcam a maior declinação setentrional e meridional do sol, afetando de forma evidente as temperaturas das estações e a duração dos dias.
Nos primórdios da Maçonaria especulativa, as figuras sobre as linhas foram associadas a São João Evangelista e São João Batista, cujas festividades no calendário católico coincidem com os solstícios, em 27 de dezembro e 24 de junho, respectivamente.
A palavra solstício vem do latim solstitium, que se divide em duas partes: sol e stitium (de deter-se), pois, durante alguns dias nesses períodos, o sol parece não alterar sua trajetória.
No dia 27 de dezembro, o sol atinge sua maior declinação astronômica ao norte, sendo a noite mais longa do ano. A partir desse momento, os dias começam a ganhar progressivamente mais horas de luz, enquanto as noites se tornam mais curtas. O solstício de inverno simboliza, portanto, o nascimento da luz, quando as trevas são vencidas pela luz nascente.
Para os hermetistas, estudiosos profundos da astrologia, o negro da noite mais longa simboliza o estado da alma antes de alcançar o dia, representando a morte do profano no momento da iniciação e o árduo trabalho do iniciado com o eu psicológico. Nos templos do antigo Egito, o sacerdote se aproximava do iniciado e dizia ao ouvido: “Não se esqueça de que Osíris é um deus negro.” Para os egípcios, Osíris era o deus funerário, senhor das almas e rei do submundo.
No solstício de junho, o sol atinge seu zênite no hemisfério norte, no Trópico de Câncer. É o momento mais alto do sol e o dia mais longo do ano em termos de luz solar. Para os alquimistas, a luz branca do sol representa o momento em que o homem abandona as trevas para seguir a luz do conhecimento.
Para a Maçonaria, este é o conceito de renovação. Aproveitamos este movimento astronômico para celebrar solenemente o despertar do sentimento de renovação da nossa vontade de mudança, valorizando novamente nossa atitude mais virtuosa.
Aos pés de São João Evangelista, situado à direita, está a figura de uma águia chamada “águia atônita”, com suas asas fechadas. A explicação desta figura está relacionada ao hermetismo e à alquimia, sobre os quais farei um pequeno esclarecimento.
Hermetismo e alquimia
O hermetismo é uma doutrina filosófica e religiosa abrangente que integra o ser humano ao universo em que vive. Busca a exaltação do espírito humano por meio do conhecimento do homem como parte da natureza, bem como do pensamento do G.A.D.U. e de sua obra. Baseia-se nos textos pseudoepigráficos do greco-egípcio Hermes Trismegisto, ou “o três vezes grande”.
Na imagem, vemos Hermes com o sol e a lua, simbolizando as virtudes celestiais e terrenas. Entre ambos está o fogo purificador, representando o segundo dos sete princípios herméticos do Kybalion, conhecido como o princípio da correspondência: “Assim como é em cima, é embaixo.”
A teoria hermética foi considerada pelos clássicos renascentistas como a essência da prisca theologia (teologia antiga), uma doutrina que afirma a existência de uma teologia verdadeira e única subjacente a todas as religiões, dada por Deus ao homem na antiguidade. Esta essência influenciou profundamente o movimento cultural e religioso da Europa Ocidental durante os séculos XV e XVI, na transição entre a Idade Média e a Idade Moderna.
Fermín Caballero