PONTO DENTRO DO CÍRCULO E LINHAS PARALELAS – Parte 2
O que é alquimia?
Alquimia, segundo Fulcanelli, é, e cito textualmente: “a busca e o despertar da vida secretamente adormecida sob a densa capa do ser e a dura crosta das coisas”. Ou seja, aquilo que dá sentido à existência humana na terra.
Sabemos que a alquimia era o processo de transformação do chumbo em ouro e, devido ao seu processo evolutivo laborioso, foi identificado um paralelismo entre ele e os progressos do ser humano em sua jornada de desenvolvimento moral e espiritual até alcançar a transcendência.
Qual é a relação entre o hermetismo e a alquimia?
O hermetismo abrange o estudo de diversas artes, como a astrologia, o “ânima mundi” (a ideia de que o mundo possui alma e espírito), a meditação, a magia cerimonial greco-egípcia, entre outras, incluindo a alquimia.
Sabendo disso, é fácil concluir que tanto a alquimia quanto o hermetismo estão intimamente ligados ao caminho seguido na Maçonaria como escola iniciática de formação e aperfeiçoamento.
O “águila pasmada” de João Evangelista
No “bestiário bíblico”, a águia é um dos quatro “tetramorfos”, simbolizando o poder da ressurreição e o domínio sobre os céus. Representa João Evangelista porque seu evangelho, o mais extenso, é caracterizado por ser litúrgico, profundo, simbólico e místico, diferentemente dos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, de caráter mais sinóptico.
Os quatro tetramorfos – homem ou anjo, leão, boi e águia – representam, respectivamente, os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João.
Arte gótica e alquimia
Na Catedral de Notre Dame em Paris, considerada por Fulcanelli como a melhor representação artística da ciência alquímica, os quatro tetramorfos cercam o Pantocrator no medallón central do Rosetão Vermelho, que simboliza o quinto elemento unificador.
O Rosetão Vermelho, o maior dos três, ilumina o interior da catedral com um intenso vermelho flamejante. Este estilo arquitetônico, conhecido como “Gótico Flamejante” ou “Gótico Tardio”, surgiu no século XIV.
O significado do vermelho na alquimia
- Simboliza Jesus Cristo, o Pantocrator, o Novo Testamento e a ressurreição, representando a supremacia do espírito sobre a matéria.
- Está associado à última fase da cocção alquímica, a perfeição alcançada no processo “Solve et Coagula”.
- Representa também o dragão filosófico, símbolo ígneo que abordaremos a seguir.
Rebis e a simbologia alquímica
Os alquimistas frequentemente representavam figuras dentro de ovos, simbolizando o mistério e o ventre materno. Rebis, figura andrógina com metade masculina (pai, o sol) e metade feminina (mãe, a lua), está dentro de um ovo e sustenta um compasso e um esquadro, representando as virtudes do céu e da terra.
Rebis está sobre um dragão filosófico, guardião da sabedoria suprema e símbolo de domínio sobre os quatro elementos:
- Corpo reptante: união com a terra.
- Escamas: poder sobre a água.
- Asas: domínio sobre o ar.
- Hálito de fogo: guardião do fogo.
Para os alquimistas, o fogo do dragão simboliza destruição e regeneração, despertando o fogo sagrado ou KUNDALINI.
O dragão repousa sobre uma esfera alada, símbolo de divindade e poder no antigo Egito. Dentro da esfera, vemos o quadrado (terra), o círculo (céu) e o triângulo equilátero, representando matéria, vida e inteligência.
A purificação alquímica na Maçonaria
Na perspectiva alquímica, a alma provém do enxofre, o espírito do mercúrio, e ambos são unidos pela sal filosófica, simbolizada pelo dragão babilônico.
Rebis possui as chaves das portas solsticiais:
- Porta do solstício de verão: desperta o sentimento de renovação e a vontade de mudança.
- Porta do solstício de inverno: marca a saída da escuridão profana para a luz iniciática do conhecimento.
Conclusão
Neste ponto, aprofundamos bastante a simbologia do Rebis e sua relação com a alquimia e a Maçonaria. Há ainda mais aspectos a serem explorados, mas deixaremos isso para outra ocasião.
Fermín Caballero